Neste momento, tenho, em "lista de espera", uns quatro livros, à espera de serem lidos. Mas não estão a ser lidos. Estão ali, sentados em vários sítios do meu quarto, a apanhar pó. Dirão logo que eu sou daqueles tecno-viciados da nova geração que não lê um ponto final há dez anos. A verdade é que não sou. É que eu tenho mais do que só esses quatro livros, muito mais. E desses, apenas um (um!) tem a capa limpa. Adivinhem só qual é. Se responderam Os Maias, de Eça de Queirós, então acertaram.
Perguntarão alguns de imediato: que tenho eu contra esse livro? Ao que eu respondo: nada. O Eça escreve perfeitamente bem e a narrativa está óptima. E não tenho rigorosamente nada contra o escritor. O meu problema não é esse. O meu problema é alguma falta de motivação. Derivada do quê? Já explico.
Pois bem, a falta de motivação de que falo deve-se a isto: eu não leio este livro porque quero, leio-o à força (por muito que alguns críticos da minha posição o queiram negar). Ora, como qualquer pessoa minimamente inteligente sabe, é impossível estar motivado a fazer uma coisa que nos é imposta pela força. E aqui, dirão alguns: que interessa isso, se o livro, afinal de contas, é bom? E eu respondo: interessa, porque é preferível ler motivado e de vontade própria.
Olhemos não mais longe do que o objectivo das leituras contratuais (termo ligeiramente mais pomposo para "contrato de leitura"): incentivar os alunos a ler. Inútil. Existem dois tipos de alunos: os que lêem e os que não lêem. Os que lêem não precisam de ser obrigados a fazê-lo, e caso tal aconteça, só são prejudicados: quando lemos por vontade, estamos totalmente abertos às palavras do escritor, bebemo-las, e no final apreciámos o livro, tal como outros apreciam um bom vinho, enquanto que ao sermos forçados, bebemos as palavras, sim, mas a contragosto, de maneira que, por muito doces que elas sejam, fica sempre um travo amargo na boca, e a tristeza de não termos lido os livros que queríamos ter lido (que é a infeliz situação em que eu me encontro). Para mais, que importa se lemos Os Maias ou O Feiticeiro de Oz? Afinal de contas, são todos livros e não é por um ter sido escrito por alguém famoso ou ser considerado referência que tem mais importância que os outros. Todos eles nos proporcionam experiências, todos eles nos tocam, todos eles nos abrem as portas a novos mundos, novas realidades, novos pensamentos.
Os alunos que não lêem? Esses não lêem de qualquer maneira; tentar forçá-los não vai dar em nada. Por favor, parem de perder tempo com esses.
Finalizo esta crónica com um pedido àqueles que tiverem tempo para a ler: bebam as minhas palavras, e só depois de sentirem o seu sabor na totalidade, depois de terem compreendido o seu significado, as critiquem. A última coisa que eu quero ver acontecer é que as minhas palavras sejam recebidas com a intransigência autoritária e arrogante de um "porque sim".
2 aforismos:
Apoiadíssimo. Tenho em mãos New Moon, de Stephenie Meyer. Vou a meio (200 páginas lidas em 3 dias. pouco.).
Como posso acabar de ler esta saga mais que soberba se ainda tenho de ter o mais rápido possível a seguinte lista:
- Schindler's List
- As intermitências da Morte
- Os Maias
- O Delfim
È um abuso. É a minha opinião.
Vejo que já aprendeste a sentir aquilo que está escrito...
Pois eu sempre disse o mesmo que tu.
Como é que alguém lê um livro só porque o tem de ler? Se acontecer o mesmo que acontece comigo eu não aproveito nada do livro e fico a odiar todos os livros do mesmo género, porque aquele foi-me imposto. TENS DE LER! Isto é que não devia acontecer.
A leitura não deve ser obrigada, deve ser aconselhada. Do género: se lesses este livro ficarias a conhecer melhor aquilo que procuras.
Acho que mais facilmente uma pessoa lê um livro desta maneira, do que: Tens de ler este livro porque vais ser avaliado nesse sentido.
Completamente "destrutivo" para uma pessoa que gosta de ler. É de uma idiotice obrigar seja quem for a ler.
Mas enfim, é a "educação" que nos estão a proporcionar!
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